Capitulo 2
E tudo começou quando eu torci o pé na Orla, no verão de 2000. Tudo começou
a dar errado... Isso mesmo. Errado.
Quando eu era pequena imaginava torcer o pé, ter que engessar para chegar na
escola e todo mundo assinar no gesso. Eu lembro que era a maior folia.
Quebrou braço, torceu pé, botou gesso, todo mundo assinava. Virava
celebridade.
Doce ilusão. Ganhei duas semanas de licença no trabalho, só recebi uma
visita, a de Kate minha amiga do chat, e ainda tomei bronca do chefe. E teve
mais: perdi uma boca livre para o festival de musica instrumental de
Ilhabela, em Sampa. Só não entendi que nesse momento eu começava a perder
meu emprego e minha vida começava a mudar. Pra pior...
Eu era feliz e não sabia.
Eu já era espiritualista, mas só que preferia falar sobre reencarnação,
terapia de vidas passadas e outros assuntos, no bar tomando cerveja com o
pessoal do curso de inglês. Hoje, sou espiritualista e o que acontece:
nada... Metade das coisas que eu fazia eu não faço por causa da porra da
auto-censura. E eu vejo as peruas, e as mais que isso felicissimas da vida e
penso: elas descobriram o nirvana sem saber quem é Buda. Pois é. Não venham
me dizer que não...
Iiiiiiiih... Ah, e de arrependimento de umas malvadezas que andei fazendo.
Malvadezas da boca pra fora, mas malvadezas. Já era. Sem essa de me
martirizar pelo que passou. Mesmo porque nem adianta.
Genteeeeeeeee... Tenho uma novela a escrever e não memórias. Eu falei
novela. E meu sonho é mesmo escrever uma novela. Mas, pro Casseta e Planeta.
Meu sonho de consumo. A Glória. Redatora do Casseta e Planeta. Será que dá
pé? Quem sabe eu me inscrevo no próximo Big Brother, apareço, aconteço e o
emprego é meu.
Era pra falar das colegas da ginástica, de preferencia as mais chatas, pra
ter mais graça. As que passam a aula inteira conversando. Teve uma que me
confidenciou:
- Fatima, eu sou muito carente. Meu marido não gosta de conversar. Só tenho
as aulas de ginástica e a internet.
- Depois da aula, Dilma, tu senta ali no Tio Medrado, toma todas, come
caranguejo e abre a matraca, mas na aula não.
Inevitável: de tanto elas falarem e o professor achar folclórico um dia eu
literalmente berrei; CHEGAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAA
TOU FORAAAAAAAAAAAAA
e deixei a aula pela metade.
Foi ai que lembrei da minha vida antes do pé torcido, mais precisamente de
minha vida no jornal.
Por onde eles andam? Aqueles que eu pensava que fossem amigos?
Munhoz, Painho, Walter, Levi, Eduarda, Claudio, Junior, por favor, se alguem
ler este blog dá um help.
Tou cansada de ser jornalista apenas no nome. Quero voces de volta a minha
vida, quero minha vida de volta, uma redação pelo amor de Deus... Quero
ouvir Roque Mendes dizendo que esqueceu as cuecas na casa da Mãe de Bonfim,
quero correr nas matérias para tomar uma no abaixadinho - que nem existe
mais - quero escrever algo que não seja novela, mas seja verdade.
Gente... Cheguei a conclusão que estou vivendo uma vida que não é minha.
Estou com saudade de mim mesma.
Será que dá pra mudar o script desta história sem que haja interferencias de
terceiros? Continuo cheia de gás, aqui. Escrevendo em blogs, e-mails, em
sites. É o que me resta, mas não é minha vida, porque minha vida é ser
jornalista. E ser jornalista, gente, é muito mais que escrever, é ter que
aturar e dar graças a deus porque existem
MULHERES QUE FALAM DE MAIS
Em matérias sobre o preço no supermercado ou para contar as fofocas do
vizinho ("em off, nem bote meu nome, please") elas são imprescindíveis.
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